Assim que soube que este espaço
estaria aberto pra que eu escrevesse algo sobre música nacional, de cara pensei
comigo mesmo: seria muito clichê começar escrevendo sobre Marina Lima? Sim, porque
quem me conhece por poucos dias que seja, sabe desse detalhe: meu
quase-fanatismo por tal cantora e compositora. E então só me restou tentar
escrever algo que não parecesse algo inflamado, apaixonado, parcial. Seria
possível?
Vejamos... Marina é uma mulher forte.
Dizem por aí que perdeu a voz: o comentário pode parecer natural, talvez por estarmos mais acostumados
ultimamente a ver (e ouvir) em terras tupiniquins ecoarem outras cantoras de
potencial vocal maior, e por que não dizer, exagerado, forçado, berrado... e o
que se repete é muita gente dizer que Marina Lima não canta mais, que apenas
sussurra. Sim, a voz não é mais a mesma dos áureos anos 80, quando explodiram
sucessos como Fullgás (Fullgás, 1985).
Ela responde a esse questionamento (já cansado) com uma pergunta: quando foi
mesmo que a voz dela foi assim tão elogiada, pra agora dizerem que ela a perdeu
e que isso foi uma tragédia? E quem disse que ela a perdeu? Voz,
definitivamente, não é algo que falta a Marina, seja no sentido literal ou no
metafórico. Quem acompanha o trabalho
mais intimista que ela tem feito nos últimos dez anos sabe que não falta voz
nem atitude na hoje cinquentona cantora carioca, que desde sempre teve peito,
seja pra gravar Mesmo que seja eu (
Erasmo Carlos mais tarde disse ter
descoberto que sem querer compôs ‘o hino
da sapataria’), seja pra gravar uma música que falava de ‘bundinhas de fora’,
quando isso parecia fútil pra uma já consolidada cantora emepebística. Marina
não está ausente nem afônica - esteve, sim, em conseqüência de um já sabido
problema depressivo que a afetou há anos atrás. A voz mudou: amadureceu. E
vamos parar por aqui por que não foi só a voz que mudou.
Marina também se mudou. Distanciou-se
das areias cariocas. Agora mora em São Paulo. Compôs pra cidade uma canção
intitulada #SPFeelings, incluída no
trabalho mais recente, Clímax(2011),
cheio de novas parcerias, com artistas que vão de Adriana Calcanhotto (com quem
divide a autoria da roqueira Não me venha
mais com o amor, faixa que abre o disco) a Samuel Rosa (que além de autor
em parceria com Marina, participa também nos vocais da pop Pra sempre, última faixa). A propósito, li por aí que Marina começa
o disco dizendo que não quer mais saber de amor e termina dizendo que quer um
amor pra sempre: Marina é assim mesmo,densa, complexa, nada linear. Por muito
tempo essas qualidades foram atribuídas às parcerias dela com o irmão, o poeta
e filósofo Antonio Cícero. Mas neste Clímax,
Marina está sem ele. Está, por exemplo, com Edgar Scandurra e Karina Buhr, na
balada Desencantados, composta por
eles três e o produtor Alex Fonseca. Recebe Vanessa da Mata pra dividir os
vocais de A parte que me cabe onde
questiona ‘em que altura deve se abrir mão das aventuras, dos riscos e da paixão?’
e conclui com a quase súplica ‘se você já encontrou a sua parte, me deixe em
paz atrás da parte que me cabe’. Certeira, aguda, quase cruel.
Além do trabalho próprio, Marina foi,
ainda em 2011, alvo de releitura por cantoras ditas da nova geração, com
destaque pras pouco conhecidas Márcia Castro, Bárbara Eugênia e Andréia Dias, e
outras relativamente ovacionadas, tais como Tulipa Ruiz,Karina Buhr e Nina
Becker (o projeto, idealizado por Patrícia Palumbo e pelo DJ Zé Pedro foi lançado
do selo Jóia Moderna -Literalmente Loucas é o nome do disco).
Há rumores que o projeto itinerante do Circuito Cultural Banco do Brasil terá,
em 2012, um show onde Marina cantará músicas de Madonna.
E dizem que Marina sumiu. Mas é
você que precisa saber de Marina Lima. Ela permanece densa, complexa e
visivelmente gostando de suas diferenças em meio a tanta coisa igual. E sendo
capaz de brigar por elas.
**Por Antenor Leopoldino
**Por Antenor Leopoldino
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