sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Em defesa do Cinquenta Tons de Cinza (não tem spoiler de verdade)


Quem nunca se envolveu em alguma discussão em mesa de bar sobre as diferenças entre homens e mulheres? Sobre como cada um dos gêneros pensa, age, etc... E sobre as diferenças na criação dos filhos, o valor do cabaço, a importância de uma tela bonita e de um rêgo fértil, aquele papo da Simone de Beauvoir e Banda? Sobre a vida privada e a vida da porta de casa pra fora do Damatta, o útero que é pra dentro e a vara que é pra fora, todo mundo aqui leu essas coisas, certo? Bom, não vou entrar na discussão sobre por que os caras curtem super-heróis e gostam de filmes barulhentos e as meninas gostam de histórias românticas e finais felizes. Mesmo achando que Clube da Luta é um filme de amor bem piegas e que Virgínia Woolf só escrevia livros violentos.



Fato é que, ninguém fica analisando o sucesso editorial da Playboy. Todos os dias milhões de pessoas fantasiam sobre as coelhinhas e fica essa polêmica toda só porque todo mundo quer um Gray agora. Repito, um Gray, uma vez na vida, versus uma chana por mês. Virou até post no Quincas, vejam só até onde vai o medo do chifre …
Outro dia eu estava lendo um artigo sobre o hipsterismo, e por que paramos de gostar das coisas quando elas se tornam populares. Foi assim quando os vampiros viraram moda, agora ficou sem graça jogar RPG com essa temática. Claro que o Cinquenta Tons de Cinza não ia sair impune dessa: foi feito pra vender mesmo, para as massas. Não foi feito pra pessoas cultas, pedantes, não foi feito pra quem se acha o fodão da putaria BDSM, não foi feito pro o rei da pinta cocada preta (não preciso escrever o nome, deu pra sacar a quem estou me referindo). Tá, quer mais clichê? Foi mesmo feito pra mamãezinhas (for mommies), pessoas que teoricamente já estão com a vida sexual paia, sem graça. A Anastácia é uma heroína para essas senhoras, tão real quanto o baitola do Batman. A Trilogia foi feita pra galerinha que não tá acostumada a ler, não sabe o que é boa literatura, povo que não consegue ficar quieto com a TV desligada (porque essas crianças dos infernos sugam todo o tempo/dinheiro/disposição/paciência/ar/tesão).


A Trilogia Cinquenta Tons foi feita pra um público que não tem dinheiro pra sair comprando livros pra ir vendo se gosta, experimentando esse ou aquele autor, repassando a lista dos ganhadores do Nobel ou dos citados em 1001 livros para ler antes de morrer. Foi feita pra figurar em listas de best-sellers e ser uma escolha fácil e automática para quem quer diversão descomplicada. Eu logo vi que esses livros não foram feitos pra uma pessoa como eu amar, e foi por isso que eu fui lá conferir.
Cinquenta Tons é como um novo sabor de hambúrguer, lançado em um mundo onde poucas pessoas tem a oportunidade de experimentar comida de verdade. Um apelo: deixem as pessoas comerem o que quiserem sem sofrer chacota, tá? Tem alguém morrendo de fome aqui, por acaso? Aproveito pra dizer que come cadáver quem quer: questionar o que nos é dado desde criança é difícil mesmo.
Acho meio esquisito esse povo pseudo intelectual vir me detonar uma Fanfic do alto do pedantismo deles. Todos eles bateram uma quando o lindão arranca o absorvente interno da moça e soca a pirocona dele lá.



Quem só foi até a página 200 perdeu essa, seus bando de corno! A antecipação é a chave da brincadeira. Vocês que abandonaram precocemente a saga, vão morrer sem saber como se usa um plug anal.

Ainda sobre a importância de tudo o que era bom mas deixou de ser porque virou muito popular, foi lendo Sidney Sheldon que eu aprendi que na África tinha diamantes do tamanho de ovos de avestruz e que muita gente morria por isso. O Machado de Assis me ensinou que nós mulheres podemos fazer muito furdunço na vida de um cabra ou dois, tipo, ao mesmo tempo. E o Guimarães Rosa, dizendo que dá é pra ser homem e mulher ao mesmo tempo? Já o D. H. Lawrence, há muito tempo, ensinou a mim e à Sandy que dar o cu é bom.

Tudo isso pra chegar em outra Trilogia recente. Me respondam o que foi que os três Matrix trouxeram para os milhões que assistiram? Lembro que na época a revista Veja colocou um artigo sobre o kung- fu e a ficção científica, muita gente deixou de assistir o filme achando que era uma sequencia de luta e perseguição assassina nas galáxias. Eu mesma só fui lá pelos efeitos especiais inovadores. Mas nos enganaram! A temática central, contudo, meus caros, é filosofia pura. A Matrix é útero universal, é tudo isso que está ao nosso redor, essa mesa, esse notebook, aquele gato, aquele resto de comida, aquela porta, aquele indivíduo, essa mão, essas coisas todas, (inclusive toda e qualquer sensação de angústia, de raiva, de euforia)... Só que nada disso existe: "a colher não existe". É tudo fruto da nossa percepção (Platão, oi?), e só vemos coisas de cuja concepção já fomos um dia familiarizados, ou seja só vemos o passado.

O presente, portanto, não existe.



Agora todo mundo relaxando a garganta, a periquita e o esfincter, pensa só na respiração, ar indo e ar saindo... Vai dar tudo certo, dói um pouco mas ninguém vai morrer por isso. Até porque “a ignorância é maravilhosa”, não é?
A ideia da necessidade de mergulhar na realidade e sair do mundo dos sonhos (Samsara) está presente no Matrix todo. Assiste quem quiser, pega quem quiser, depois não venham me dizer que não tinham como sair do País das Maravilhas, seus bando de Alice chapada (nós, né?).
Cinquenta Tons traz mensagens e reflexões no meio de um monte de putaria inverossímil a que todos deveríamos ter acesso (ficou confuso de propósito, professor Carlos Evandro, porque todas merecemos um Gray com seus chicotes, os visíveis e os invisíveis). Essas mensagens estão travestidas no corpo de um Chick-Lit, de um best-seller, nomeiem meu cu como quiserem. Chegou nas massas, tá valendo.
Quem tiver disposição vai ler, vai procurar e vai achar (eu não vou dizer por que seria spoiler). Mais do que isso, o fenômeno editorial criou uma busca por livros do mesmo estilo, o que incitará a busca por outros tipos de literatura. Afinal, um público que não ia às livrarias (mais um efeito colateral do Bolsa-Família) agora anda fuçando pra ver se acha outro Gray escondido nas prateleiras, nas bibliotecas (ou na casa do vizinho, né, bando de corno inseguro?). Quem sabe um dia essas mamães não chegam na prateleira de HQs? E assim vão poder comprar aquele Alan Moore fabuloso que vai mudar a vida delas pra sempre?

Meu útero. 
**Escrito por MagMax

8 comentários:

  1. Se eu bem entendi, com parte do bolsa-família dá pra comprar um RPG onde o Machado de Assis entorta um plug anal de avestruz no cu do batman

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  2. Só não entendi o Carlos Evandro e o Alan Moore chicoteando o Guimarães Rosa com o OB menstruado da Sandy...

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  3. E quando é que sai essa Playboy da Virginia Woolf, hein? Ansioso...

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    1. A pessoa faz um texto beirando a um tese de mestrado, e outro vem e acaba com tudo com três comentários....

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  4. E o hambúrguer de cadáver, hein? Vi a ideia no filme VIVOS, mas nunca achei que ia vingar.

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  5. Aquela obra, na primeira foto, depois do gif do clube da luta e da Brooke Shaden.

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  6. Amei, Iza. Eu confesso que não li por puro preconceito hipsteriano, acho até que não vou ler por ser uma mamãezinha sem muito tempo, mas não vou mais sair por aí torcendo o nariz. Você tem razão: ler é sempre válido, nem que seja para você opinar negativamente sobre determinada obra.

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  7. Eu pensei que fosse a Iza mas é a Meg! Dã. Amei o texto, gatan.

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